Com 35 anos de idade, minha mãe me deu a luz, muito mais tarde que a maioria das mulheres tem os seus primeiros filhos. E ela teve somente uma filha.
Ela quis isso por uma série de fatores, sejam eles financeiros ou emocionais. E eu não a culpo por ter me escolhido para ser sua filha favorita - sim eu sou a filha favorita porque eu sou a única - até porque tem suas vantagens.
um quarto só pra mim
Sim, eu tenho um quarto somente meu, sem beliche, sem irmãos para infestar o espaço com suas coisas, e posso personalizar do jeito que eu quero. Tô passando na cara de todo mundo mesmo.
Eu lembro de uma vez que minha mãe jurou que estava grávida, e sinceramente, a primeira coisa que eu genuinamente pensei foi: “Meu Deus, e o meu quarto!?”. Eu concerteza não estava a fim de dividir meu quarto com minis inquilinos, até porque é o meu cantinho sagrado, é aqui que eu surto com meus livros, ouço minhas músicas enquanto me arrumo, estudo e fantasio sobre passar na faculdade - sim eu sei que você já fez isso pelo menos uma fez.
E tem mais: aqui em casa só tem um banheiro, se dividir um banheiro com meus pais já é complicado imagina com meus irmãos?? Nem pensar!
não preciso cuidar de ninguém
Eu sou extremamente ocupada com os estudos, e eu queria realmente estar exagerando. Então cuidar de um irmão ou irmã tentando estudar para 3 cursos, vestibular e extracurriculares ia ser quase impossível. E se eu tivesse esse irmão ou irmã lá na infãncia, eu ainda seria a irmã mais velha que teria que arcar com as sapequices da criança.
Não me entendam mal, eu adoro crianças - dos outros.
responsabilidade
Pois é, eu não tenho responsabilidade nenhuma sobre algum irmão ou irmã. Eu sei que os pais adoram colocar tudo nas costas dos irmãos mais velhos, então concerteza as minhas resposabilidade seriam 200%.
A minha mãe - quando achou que estava grávida - disse que se tivesse um bebê na barriga dela, eu que ia cuidar. COMO ASSIM? Sinceramente eu entendo vocês irmãos mais velhos, o desespero que eu senti naquele momento não tá escrito.
Porém, apesar de tantas vantagens, ainda queria me concentrar em uma coisa: boa parte da minha infância, eu estive sozinha. Sem um irmão(a) para brincar, brigar, discutir, arrancar os cabelos, eu procurei nos meus colegas de bairro e escola uma validação de ser uma boa amiga, para que as pessoas gostassem de mim, e eu não fosse deixada de lado - o que acontecia com frequência.
É incontáveis as vezes que eu deixava que os outros fizessem o que quissesem comigo, pois se eu questionasse, eles poderiam me excluir. Alguns coleguinhas quebravam minha coisas, e eu não fazia nada, porque eu acreditava que eles iam gostar mais de mim assim - e gostavam, mas só pra servir de capacho mesmo.
Eu copiava a tarefa de casa todinha de uma “amiga” porque eu tinha medo de ficar sozinha, eu deixava os outros ditarem quem eu era ou como devo agir pra não ser excluída, nesse processo tentando imitar as versões dos outros, eu esqueci minha própria versão.
(dri’s fulaninhos version)
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Não me entenda mal, eu guardo com muito carinho minhas memórias da infãncia, todos os momentos que eu brinquei com minhas barbies da feira onde elas eram ricas sem trabalhar, tinham um carro xique e moravam todas juntas e faziam festas do pijama. Quando eu brincava de cabana com minha mãe e a gente inventava histórias, quando eu esperava meu pai chegar do trabalho pra jogar o jogo de vestir da boneca com ele, quando eu assistia bom dia & cia enquanto tomava nescau.
Todas essas coisas deixam meu coração quentinho, e sempre vou lembrar de tudo, sentir saudade de tudo, e ser grata por tudo. Mas não ter tido pessoas da minha idade para fazer amizade, e quando eu não era do jeito que essas pessoas queriam que eu fosse, eu era excluída, e a dor da exclusão me seguiu por muito tempo. Mas isso foi mais forte na pré-adolescência, na infãncia, eu ainda era a extrovertida do grupo que não ligava pros outros, que não tinha vergonha do que gostava.
Mas chegou um momento que eu, me moldei ao caráter das pessoas para ser aceita, imitei suas ações, opiniões e jeitos, sem me dar conta que eu estava virando um espelho, que refletiu as pessoas mas nunca me refletiu.
O que é estranho, porque todas as vezes que alguém me elogia hoje é sempre um “você é tão autêntica” ou “você é extremamente espontãnea”. Percebi aos poucos que eu me curei, e voltei a essência da minha mini eu tão tão tão eu.
Mas sinceramente, não sei se eu tivesse tido irmãos teria sido diferente, mas concerteza com uma casa cheia de gente, com muleques suados brincando de bola, pais gritando com as meninas pra não mecher em alguma coisa, você começa a não ouvir seus próprios pensamentos. Mas ainda assim, eu amo o calor humano, não gosto de multidões, mas concerteza um ninho cheio, é melhor que um vazio.
Talvez você discorde, porque está lendo isso com um monte de criança gritando, ou se perguntando porque está tão quieto onde antes estava um barulheira - ai você pensa: quem me dera ter os seus problemas.
Também sou filha única; e se for ter filhos, não terei só um justamente pela minha experiência sendo apenas uma
af me identifiquei (amei, arrasou!!!!!!!!!!